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A Naval 1.º de Maio desapareceu do futebol... e a Naval 1893 nasceu

  • Foto do escritor: Fernando Gamito
    Fernando Gamito
  • 15 de nov. de 2018
  • 6 min de leitura


A Figueira da Foz assiste ao surgimento de uma "nova" Naval, após a que jogou na Primeira Liga ter suspendido o futebol.


Uma desapareceu do futebol… a outra nasceu para o desporto rei. O início desta época testemunhou o fim do futebol na Naval 1.º de Maio, outrora um dos símbolos do futebol português, mas houve quem não quis que o desporto rei acabasse na Figueira da Foz. Foi sob esse semblante que nasceu a Associação Naval 1893, clube que faz em 2017/18 a estreia em competições e que tem na formação de jovens jogadores o principal objetivo para o futuro.


Como se processou então o surgimento da “nova” Naval? Paulo Bispo, presidente do clube, explicou-o em conversa com o Bancada. “O processo de nascimento foi de um grupo de ex-atletas, de amigos, que resolveu juntar-se e criar um clube que mantivesse a chama imensa da Naval, em termos de futebol de formação, que é essa a verdadeira identidade do clube, e o futebol sénior, que será sempre a imagem do clube”, referiu Paulo Bispo, que vincou ainda o facto de a Naval 1893 “não ter nada que ver em relação à Naval 1.º de Maio.”


E qual o motivo para focarmos aqui aquele que foi em tempos um dos clubes do principal escalão nacional? Ora vejamos… a 29 de setembro deste ano foi anunciada a suspensão do futebol na Naval 1.º de Maio. O clube esteve durante seis temporadas consecutivas na Primeira Liga, entre 2005 e 2011, ano em que teve início um descalabro que levou à descida às divisões distritais da Associação de Futebol de Coimbra e culminou com o desfecho já conhecido. As razões financeiras falaram mais alto no momento final. "Chamaram-nos para uma reunião e disseram-nos que a Naval não tem capacidade financeira para competir e deixa de ter futebol", referiu nesse momento Mário Couceiro, ex-treinador da equipa de juvenis da Naval 1.º de Maio. Por seu turno, Marco Figueiredo, que passou por funções no futebol de formação e na secção administrativa do clube, deu conta de que as equipas da formação passariam para a Naval 1893… ainda que Paulo Bispo tenha referido ao Bancada que os clubes não estão ligados.


Mas, falemos de presente. No panorama atual da Figueira da Foz, é da Naval 1893 que se fala, ainda que os primeiros passos de um projeto em crescimento sejam de elevado grau de dificuldade. “Está a decorrer com grandes dificuldades, mas estamos a lutar. O futebol sénior está na primeira divisão distrital, estamos a competir, com uma equipa de jogadores do concelho da Figueira da Foz. A nível da formação, temos as categorias a disputar os respetivos campeonatos, em juniores, juvenis, iniciados, infantis, benjamins… e estamos a lutar para sobreviver”, referiu Paulo Bispo.


O treinador do clube, José Godinho, tomou conta do comando técnico há pouco tempo e traçou, ao Bancada, uma análise sucinta ao plantel que encontrou na Figueira da Foz. “O próprio plantel tem jogadores que já não jogavam há algum tempo, outros que vinham de escalões inferiores, ou seja, do Inatel, mas também é um grupo de atletas bastante empenhado, interessado, focado no objetivo que se foi conquistando ao longo destes meses de vida do clube.”


José Godinho falou ainda na “experiência inovadora a todos os níveis” que está a vivenciar na Naval. “É um clube que nasceu há meses e é como um casamento, onde há aquela fase inicial em que temos que comprar tudo e projetar. Mas, é um clube com sorte de ter pessoas à frente com vasto conhecimento do futebol e também social da Figueira da Foz, o que é um pilar bastante forte para que o clube possa crescer. Ainda assim, neste momento o clube tem todas aquelas carências de uma fase inicial de vida, que aos poucos se vão colmatando e atingindo”, atestou o treinador ao Bancada.


Primeira Liga? Não. Os objetivos são outros

Quando se fala num novo projeto, é imperativo saber quais são as metas estabelecidas a priori, tanto para curto como para longo prazo. Fomos perceber quais são os objetivos desta Naval e uma futura presença na Primeira Liga é colocada totalmente de parte pelo presidente, Paulo Bispo. “O objetivo principal é formar, não nos propomos a voltar a ter futebol de primeira liga na Figueira da Foz. Esse não é um objetivo nosso”, reiterou ao Bancada.


“Os objetivos são consolidar o futebol de formação e que exista um clube credível, que dignifique a cidade, o concelho e que seja organizado, transparente, que tenha como sustentação a massa associativa, porque o clube é da massa associativa, dos adeptos e dos sócios. As metas são termos um clube com bons treinadores, bons seccionistas para que os jovens cresçam saudáveis e com uma boa aprendizagem no futebol. Em termos de competição, se tivermos boas equipas e ganharmos mais vezes que as outras equipas, é lógico que vamos subir patamar a patamar”, considerou o presidente da Naval 1893.


Não obstante o facto de o objetivo principal passar pela formação, é de assinalar o percurso da equipa sénior nesta época. A Naval 1893 lidera a Série B da primeira divisão da AF Coimbra, com 20 pontos em nove jornadas, correspondentes a seis triunfos, dois empates e um desaire, que chegou apenas na última ronda, disputada no passado fim de semana, perante o Brasfemes (1-0).


“Sim, estamos a liderar a série. Ontem tivemos um dia menos positivo, concedemos a primeira derrota no campeonato frente ao segundo classificado. Mas, em termos de resultados as coisas têm estado bem. O mais importante no meio disto tudo é perceber que não está nada conquistado, estamos numa fase inicial e, tal como disse aos jogadores, chegar aqui custou bastante, mas o mais difícil é manter esta regularidade, pois se não conseguirmos, ou se por algum motivo embandeirarmos em arco, isso não vai ser fácil”, destacou o treinador José Godinho, que pretende incutir nos jogadores da equipa hábitos competitivos a que não estavam acostumados. “Mas, são hábitos novos que os jogadores têm que adquirir, talvez situações novas às que estavam habituados. Temos de tentar que eles tenham o espírito profissional ao máximo, sem pôr em causa as próprias vidas pessoais, ao serem rigorosos.”


Uma vida dedicada a um só clube conhece agora uma nova aventura

José Godinho é agora o treinador principal da Naval 1893, mas chegou ao cargo bem recentemente. Antes disso, dedicou largos anos ao Grupo Desportivo Guiense, clube da Guia (Pombal), da Associação de Futebol de Leiria. Uma longa ligação que conheceu o ponto final ainda nesta temporada. “Estive dez anos seguidos no Guiense. O ano passado foi bastante desgastante em termos anímicos, pessoais e coletivos, porque não foi uma época condizente com o que tínhamos feito nas restantes que lá tínhamos estado”, salientou Godinho em conversa com o Bancada, não obstante o facto de o Guiense ter chegado às meias finais da Taça da AF Leiria em 2016/17 (ficou em 10.º lugar na Divisão de Honra da AF Leiria).


Godinho procedeu em explicar as razões que levaram à saída do Guiense e que culminaram com o abraçar de um projeto recente. “Esta temporada, não conseguimos jogadores, era um grupo muito restrito e reduzido e isso limitou um pouco o trabalho, a metodologia de treino. Como é óbvio, as coisas foram continuando a desgastar-se e saí a uma terça-feira. Nesse mesmo dia ligaram-me para questionar se estava interessado em abraçar este projeto [Naval 1893], que é estabilizar o clube, fazê-lo subir e estabilizá-lo posteriormente num patamar superior”, referiu.


📷José Godinho (à direita), o treinador da Naval. Crédito: Facebook Naval 1893 - Futebol de Formação.

O treinador de 46 anos optou por aceitar a proposta para rumar ao comando técnico do clube da Figueira da Foz e considera ter tomado a decisão mais correta para a carreira. Quanto àquilo que mais caracteriza este ‘novo’ clube do panorama futebolístico português, José Godinho foi perentório. “É um clube bastante intenso e vivo na Figueira da Foz, algo que já senti neste período em que estou à frente da equipa.”


Porém, não foi José Godinho que começou no comando técnico da Naval 1893 aquando do começo do projeto. Foi sim João Pereira, atual timoneiro do Moita do Boi (Divisão de Honra da AF Leiria). “Iniciámos o projeto com um treinador de créditos firmados, que estava reivindicado aqui na Figueira da Foz há muitos anos, o João Pereira, que é um homem do futebol, já passou por muitos clubes. Ele acreditou em nós, na nossa capacidade de mobilização e veio trabalhar connosco”, referiu ao Bancada o presidente da Naval 1893, Paulo Bispo.


Ainda assim, quem se encontra agora no cargo é José Godinho. “Nós não temos capacidades económicas para dar contrapartidas, então surgiu-lhe [a João Pereira] uma oportunidade para ir treinar um clube de um patamar superior, onde já tinha estado, e com subsídios muito bons. Ele falou connosco e nós colocámo-nos à disposição para ele o fazer, porque acima de tudo há uma relação de amizade. Na transição, estivemos a analisar as situações que haviam e então surgiu o prof. José Godinho, que é um homem da Figueira, e que saiu do Guiense, onde já estava há dez anos. Falámos com ele, como foi também um homem que fez a formação do futebol por cá, conseguimos mobilizá-lo para este projeto, em que está a liderar o futebol sénior. É claramente uma mais-valia”, reiterou o presidente da Naval 1893 ao Bancada.


*Texto originalmente publicado em Bancada.pt a 11 de dezembro de 2017.

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