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  • Foto do escritorFernando Gamito

Pizzi: a camisola do Barça, o "patrão" da Luz e "ídolo" em Bragança



A atravessar aquele que é o melhor arranque de época da carreira, Pizzi já mereceu a chamada de regresso à Seleção Nacional. Em apenas oito jogos nesta temporada, o médio do Benfica já igualou o número de golos marcados na totalidade de 2017/18 (seis) e foi um dos principais destaques do trajeto das águias até à fase de grupos da Liga dos Campeões. O Bancada foi até às raízes do jogador de 28 anos, natural de Bragança, onde deu os primeiros passos no futebol. Para além de ter ouvido a história do nome que o transmontano adotou no desporto rei, ficou também provado que o caráter animado e brincalhão que passa para fora dos relvados já se notava enquanto jovem aspirante a futebolista.


Luís Miguel Afonso Fernandes. Se perguntássemos a inúmeras pessoas a quem pertence este nome, certamente que seriam poucas as que saberiam a resposta. Assim o é porque o Luís é conhecido no mundo do desporto rei por Pizzi, numa homenagem ao antigo avançado do FC Barcelona, que também passou por Portugal, mais precisamente pelo FC Porto. Mas, foi devido ao clube catalão que a alcunha surgiu. Benfica, FC Porto e Sporting são os clubes grandes do futebol português, mas o jovem Luís preferia vestir uma camisola do Barça quando jogava na rua com os amigos. “Quando era miúdo, ele andava sempre com uma camisola do Barcelona e daí o nome Pizzi, porque na altura jogava no Barcelona o Pizzi e como ele fazia muitos golos os amigos só o tratavam assim”, revelou, em conversa com o Bancada, Beto Antas, antigo treinador de Pizzi nas camadas jovens do GD Bragança.


O próprio Beto Antas acompanhou o percurso de Pizzi dos sete aos 17 anos em Bragança até o SC Braga avançar para a contratação do jogador. “Chamou-me logo a atenção nos primeiros treinos de captação, um miúdo franzino e pequeno em relação aos outros da idade dele. Isto com sete, oito anos já demonstrava uma técnica acima da média. Era um miúdo alegre  e notava-se que gostava daquilo que fazia. Quando lhe chamava a atenção por alguma coisa que se passava no campo [posicionamento ou movimentações] mostrava-se interessado e com muita vontade de fazer sempre bem aquilo que se lhe pedia”, confidenciou ainda o antigo técnico do médio do Benfica.


“Muita gente chamou-me maluco… mas eu sabia o que estava ali”

Pizzi é hoje uma das principais figuras dos tempos mais recentes do Benfica, mas a verdade é que o Sporting teve a oportunidade de ficar com ele ainda em jovem idade. “Muita gente chamou-me maluco e diziam que era apenas mais um que iria ficar pelo caminho. Mas, eu sabia o que estava ali pela maneira como trabalhava e sempre acreditei nele. Pelo trabalho, vontade, empenho e dedicação que demonstrava… muitas vezes tinha que o mandar parar porque ele queria sempre mais e até ficava chateado comigo por isso. Ele começou a dar nas vistas nas seleções distritais e vários clubes andaram de olho nele. Esteve a fazer testes no Sporting com mais ou menos 10/11 anos”, contou Beto Antas. No entanto, foi um emblema minhoto que apostou primeiramente no transmontano.


“Foi o SC Braga que chegou com condições mais realistas numa altura que ele numa época com idade de juvenil, foi campeão distrital de juvenis, juniores e nos seniores campeão da 3.ª Divisão”, referiu o antigo treinador de Pizzi. Por falar na equipa principal do Bragança, Carlos Carneiro, conhecido como 'Pedrinha' no mundo do futebol, foi colega dele por lá e deu conta de uma situação peculiar para um jovem chamado ao plantel sénior. “Sempre que tínhamos um treino de equipas, todos o queriam na equipa devido à qualidade dele já naquela idade”, contou ao Bancada.


“Em dez remates… nove deles eram golo”

“Para a idade que tinha já mostrava muito potencial em relação a outros da mesma idade e aos mais velhos. Era muito rápido e habilidoso com a bola, quer em drible quer em passe. Quando ele começou no Bragança era um jogador muito repentino de fácil drible, que tanto fintava com o pé direito como com o esquerdo, o que fazia com que fosse um jogador diferente dos outros”, prosseguiu ainda Carlos Carneiro. Nos dias que correm habituámo-nos a ver Pizzi jogador numa posição mais central do terreno, mas a verdade é que foi como extremo que deu os primeiros passos em sénior. “A posição dele quando apareceu era extremo dos dois lados, mas tinha uma facilidade em finalizar muito acima da média. Em dez remates... nove deles eram golo, tinha muita frieza frente ao guarda-redes.”


Esse cariz finalizador de Pizzi, que veio ao de cima neste início de temporada, era já um traço característico do futebol do transmontano no começo da carreira. “Era um finalizador nato, fazia muitos golos de todas as maneiras e feitios. Foi sempre o melhor marcador tanto a nível de clube, como nas seleções distritais”, referiu Beto Antas. De facto, essa veia goleadora fazia com que Pizzi jogasse mais avançado no campo do que nos dias que correm. “Ele atuava como ponta de lança ou médio ala. Fez algumas vezes a posição oito quando era preciso. Era muito evoluído tecnicamente e inteligente”, considerou Beto Antas.


“O melhor do Benfica… hoje é um patrão”

Pizzi foi contratado pelo SC Braga em 2007/08 e foi emprestado ao GD Ribeirão na temporada seguinte, depois de uma época nos juniores dos arsenalistas. Por lá encontrou João Pica, agora jogador do Académico de Viseu. “Nós passávamos muito tempo juntos, almoçávamos e jantávamos sempre juntos com mais uns colegas que tinham vindo com ele de Braga...houve muita situação engraçada...muita mesmo!”, salientou o defesa em conversa com o Bancada, antes de destacar aquilo que viu de Pizzi nessa temporada. “Ele na altura jogava mais na linha, muito rápido e com técnica já acima da média. Era jovem e tinha uma margem enorme de progressão, soube aproveitar as suas qualidades e as oportunidades que lhe deram e isso, a par da humildade, fizeram dele o jogador que é hoje.”


Tiago Martins também partilhou balneário com Pizzi no Ribeirão e descreveu as qualidades e capacidade que o médio aprimorou e que fazem dele um “patrão” dentro de campo hoje em dia. “Fisicamente nunca foi muito forte, mas nunca teve medo do contacto, tecnicamente era já acima da média. O Pizzi com a bola nos pés era e é rápido e sempre jogou com a cabeça levantada desde jovem com boa visão de jogo, que o faz hoje o melhor do Benfica pela grande qualidade que tem, hoje é um patrão”, salientou o antigo avançado ao Bancada.


Para um miúdo com pouco tempo no SC Braga e já alguma experiência anterior de seniores, uma cedência ao Ribeirão poderia ter sido vista como um passo atrás… mas quem jogou com Pizzi sabe que o jogador do Benfica viu essa situação sim como uma oportunidade. “Ele sabia que ia ser uma passagem para ele em Ribeira, acredito que por vezes quando não era opção lhe tenha passado isso [passo atrás] na cabeça, mas é normal para quem é jovem e está ligado a uma equipa como o SC Braga. No entanto, ele foi sempre profissional e conseguiu chegar à equipa principal do Braga com o seu trabalho”, referiu João Pica.


Tiago Martins falou em “boa aposta” para descrever a passagem de Pizzi pelo Ribeirão. “No Braga B joga-se com jovens todos da mesma idade, não há muita experiência, que num clube não sendo equipa B tem um pouco de tudo. Ele jogava comigo na frente na direita. Muitas vezes era meu suplente [risos]. Lembro-me num jogo na Madeira em que ao intervalo ele entrou para o meu lugar e marcou um golo que depois empatamos no final”, lembrou.


“Brincalhão e animado”... é assim o “ídolo” de Bragança

Quem acompanha o dia a dia do Benfica e, mais precisamente de Pizzi, já foi absorvido pela imagem que o médio passa para fora das quatro linhas de ser um animador de balneário. Na verdade, o transmontano já era assim em jovem. “Era um miúdo muito brincalhão e animado, tinha sempre um sorriso na cara, andava sempre com partidas aos colegas e faziam um balneário fantástico”, reconheceu Beto Antas, antigo treinador de Pizzi no Bragança.


Quando chegou aos seniores do clube da sua terra, o jogador de 28 anos acusou alguma timidez, mas aos poucos a integração no plantel foi suplantando isso. “Ele era um miúdo um pouco tímido porque só tinha 16 anos e quando se está pela primeira vez com colegas com mais idade fica-se mais acanhado do que espevitado. Mas, depois com o decorrer do tempo ele era brincalhão... mas sempre sem abusar, senão os mais velhos punham-no em sentido”, contou Carlos Carneiro.


Em Ribeirão, o facto de se ter sentido em casa desde logo fez com que se sentisse mais à vontade. “Ele vinha com cinco colegas também do Braga, por isso estava mais à vontade. Mas, era um miúdo calmo, que escutava e respeitava toda a gente e já sabia o que queria apenas com 19 anos. Fazia as suas brincadeiras de balneário, mas mais com os seus colegas do Braga. Aos poucos foi ganhando confiança e depois soltou-se com o resto do grupo que é normal. Quando o vejo hoje no Benfica vejo que é a mesma pessoa que à nove anos atrás”, reconheceu Tiago Martins. “Apesar de ser dos mais jovens no balneário, o Pizzi era brincalhão, numa equipa muito jovem no geral e isso permitia mais brincadeira. O Pizzi era um miúdo animado e que fazia bom balneário”, acrescentou João Pica.


Pizzi nunca renunciou às suas origens, mesmo apesar de a carreira futebolística já o ter levado a Braga, Ribeirão, Paços de Ferreira, Covilhã, Madrid, Corunha, Barcelona e, por fim, Lisboa. Por isso mesmo, é que o jogador do Benfica é visto como um “ídolo” para as gentes daquela terra de Trás-os-Montes. “O Pizzi é hoje visto em Bragança como um ídolo e uma referência para os mais jovens. Quando pode, não esquece as origens, vem a Bragança e continua com a mesma humildade que sempre o caracterizou, amigo do seu amigo e sempre disponível para ajudar quem precisa com causas solidárias e não só”, confidenciou Beto Antas.


*Texto originalmente publicado em Bancada.pt a 6 de setembro de 2018.

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