Ivo Vieira: frontalidade, proximidade ao plantel e primazia pela posse de bola

Ivo Vieira diz aquilo que pensa, seja uma opinião positiva ou negativa sobre a equipa. E não tem problemas de o fazer em público. Foi assim que o técnico se deu a conhecer ao leme do Estoril Praia, na época passada. Chegou ao comando dos estorilistas a meio da temporada, mas não foi feliz, pois não conseguiu evitar a descida de divisão, ainda para mais na última posição da tabela classificativa da Primeira Liga. Ainda assim, Ivo Vieira conseguiu a proeza de se manter entre a elite do futebol português em 2018/19, com a confirmação de que é o novo treinador do Moreirense, sucedendo ao ‘salvador’ Petit no cargo.

Então, que tipo de treinador é Ivo Vieira? “Ele sempre foi um treinador que teve uma grande proximidade com os jogadores. Apesar de que quando é para trabalhar é para trabalhar e não há espaço para outra coisa que não a concentração e foco no treino. Gosta de motivar os jogadores para que entendam que há sempre espaço a melhorar”, considerou Ricardo Fernandes em conversa com o Bancada. Treinado por Ivo Vieira nas camadas jovens do Nacional, Ricardo Fernandes salientou ainda a relação que o técnico cria com o plantel. “No dia a dia é uma pessoa que gosta de ter uma boa relação com os jogadores. Fora de campo, podem contar com ele para sempre o primeiro sempre a alinhar nas brincadeiras normais de uma equipa. Não mostra duas caras ao seu plantel.”

Não foi fácil a época para Ivo Vieira. O técnico de 42 anos chegou à Amoreira com a missão de salvar o Estoril de uma ‘condenação’ que parecia ser cada vez mais inevitável à medida que o tempo ia passando. O que fez Ivo Vieira? Pois bem, nas suas próprias palavras mostrou sempre “o corpo às balas”. Quem não se recorda das declarações do treinador logo a seguir ao desaire diante do FC Porto, naqueles 45 minutos em que sofreu três golos, depois de ter chegado a esse adiado segundo tempo em vantagem por uma bola? “Quase que dava dó ver o Estoril em campo”, atirou Ivo Vieira na conferência de imprensa. Mas, não se ficou por aqui.

“Eu tenho de pensar bem porque eu sou responsável, mas estes atletas também têm de repensar aquilo que é jogar numa instituição como esta, não basta vestir uma camisola, têm de trabalhar o suficiente para dignificar a mesma. Temos aqui um emblema, temos pessoas que lutam por nós, que olham por nós, que puxam por nós, que estão do nosso lado mesmo nestes momentos difíceis. A responsabilidade é minha, mas os jogadores são aqueles que desfrutam no campo e que têm de dar mais. Uma coisa é perder sendo competente e oferecendo dificuldades ao adversário, dando o seu máximo. Mas, com um comportamento destes temos de parar para refletir sobre aquilo que foi o nosso comportamento”, reiterou ainda Ivo Vieira nesse momento. Assim sendo, os adeptos do Moreirense sabem que os espera um novo timoneiro que é direto e não tem medo de dizer o que lhe vai na alma.

Agora, em Moreira de Cónegos, Ivo Vieira vai encontrar um clube com os mesmos objetivos que tinha na Amoreira. A principal ambição do Moreirense para uma qualquer época que seja passa por assegurar a permanência no principal escalão do futebol português. Assim sendo, é de prever que o modelo de jogo utilizado pelo treinador no Estoril seja, um tanto ou quanto, similar àquele que irá projetar no comando técnico dos cónegos. Que estilo de futebol é, então, esse que Ivo Vieira preconiza pelas equipas nas quais já passou? O timoneiro opta por dar algumas características de jogo ofensivas às equipas, recusando recuar as linhas ao máximo mesmo quando joga contra clubes de maiores dimensões.

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"Até posso passar por maluco, mas não mudo a ideia de jogo. A minha equipa só vai jogar num bloco baixo perante o que o adversário nos obrigue a isso. Vou continuar a defender a minha ideia de jogo, a provocar isso nos meus atletas e faço disso a imagem a minha imagem e a do Estoril. Procurarei sempre um jogo de posse, atraente para quem vê. Se os resultados caírem para o nosso lado será mais atrativo, mas procurarei sempre manter esta dinâmica de equipa ofensiva. Defendo que quanto mais próximo da minha baliza, mais próximos de sofrer estamos. Vamos manter a nossa conduta para o jogo”, foram palavras de Ivo Vieira antes de medir forças com o Benfica no campeonato da temporada passada.

De facto, até mesmo quem já foi treinado por ele atesta a primazia de Ivo Vieira por um futebol de qualidade. “O mister sempre gostou de fomentar o gosto pela posse. Ter a bola e circular para que possamos construir as nossas oportunidades nunca descartando uma boa organização defensiva”, referiu Ricardo Fernandes ao Bancada. O mesmo Ricardo Fernandes considerou ainda que Ivo Vieira tem tudo para ter um futuro risonho no principal escalão e no Moreirense, tendo em conta que vai começar a planear a temporada desde o início dela. “No Estoril ele já apanhou o comboio a andar e é muito difícil numa primeira liga sair de lugares mais difíceis da tabela. Agora no Moreirense é diferente. Algo que vai ser planeado por ele e que vai ser feito com certeza com muita dedicação e profissionalismo e vão ser alcançados os objetivos pretendidos”, referiu.

Madeirense ‘de gema’ que faz do continente casa há pouco tempo

Natural de Machico, foi precisamente na Madeira que começou a carreira de treinador para Ivo Vieira e foi na Ilha que realizou todo o percurso enquanto jogador. A começar pelo início… foi em 1994/95 que Ivo Vieira chegou ao plantel sénior do Nacional, depois de ter passado pelas camadas jovens do clube e também as da AD Machico. Rui Mâncio era o treinador do Nacional nessa temporada. Desde aí, foram dez épocas feitas com a camisola dos alvinegros vestida… até que decidiu colocar um ponto final nesse ciclo e em 2004/05, logo no ano seguinte a pendurar as chuteiras, enveredou pelo trajeto de treinador, que começou como adjunto.

Após um par de épocas como adjunto, seguiu-se o comando técnico dos juniores do Nacional, cargo que ocupou durante duas temporadas. Foi então que surgiu a hipótese de orientar a equipa principal do Nacional, sucedendo a Jokanovic no final da época 2010/11 e começando a seguinte. Ainda assim, Ivo Vieira apenas chegou a meio de 2011/12 e saiu do clube. Seguiu-se o rival madeirense, ou seja, o Marítimo. Por lá, começou como timoneiro da equipa B, subiu a adjunto do conjunto principal e terminou 2014/15 como treinador principal.

Na temporada seguinte também não passou de metade do trajeto e deixou o clube. Foi então que começou a caminhada de Ivo Vieira em Portugal Continental. Primeiro, o Aves, que deixou após a 27.ª jornada da Segunda Liga de 2016/17, na vice-liderança da tabela classificativa. Começou a temporada seguinte na Académica e os bons resultados levaram-no a trocar os estudantes pelo Estoril a meio da época… o que aconteceu depois já se sabe, com a descida da equipa da Linha ao segundo escalão.

O PERCURSO DE IVO VIEIRA 2017/18 - Estoril Praia - 23 jogos / 6 vitórias / 6 empates / 11 derrotas; 2017/18 - Académica - 16 jogos / 8 vitórias / 3 empates / 5 derrotas; 2016/17 - Aves - 30 jogos / 16 vitórias / 9 empates / 5 derrotas; 2015/16 - Marítimo - 23 jogos / 10 vitórias / 3 empates / 10 derrotas; 2014/15 - Marítimo - 13 jogos / 5 vitórias / 5 empates / 3 derrotas; 2013/14 - Marítimo B - 42 jogos / 11 vitórias / 10 empates / 21 derrotas; 2012/13 - Marítimo B - 19 jogos / 7 vitórias / 5 empates / 7 derrotas; 2011/12 - Nacional - 16 jogos / 6 vitórias / 3 empates / 7 derrotas; 2010/11 - Nacional - 2 jogos / 1 vitória / 0 empates / 1 derrota; 2009/10 - Nacional (juniores) - 30 jogos / 18 vitórias / 8 empates / 4 derrotas; 2008/09 - Nacional (juniores) - 30 jogos / 16 vitórias / 5 empates / 9 derrotas.

*Texto originalmente publicado em Bancada.pt a 17 de junho de 2018.