O miúdo alentejano que sempre foi "obcecado pela bola"
- Fernando Gamito
- 15 de nov. de 2018
- 5 min de leitura

Uma viagem às origens de Diogo Gonçalves em Almodôvar, terra alentejana que o viu dar os primeiros passos no futebol.
“Obcecado pela bola” desde miúdo, com a mente sempre focada naquele que cedo foi o principal objetivo: ser futebolista. Diogo Gonçalves é hoje em dia uma das figuras mais emergentes da nova geração do Benfica, que provém das camadas jovens do clube, e desde 2008/09 que veste de ‘águia’ ao peito. Porém, os primeiros passos do atacante de 20 anos foram dados em pleno Alentejo, mais precisamente em Almodôvar, terra que o viu nascer para uma carreira no desporto rei que começa agora a colher os frutos plantados por um jovem que cedo mostrou dotes para chegar ao patamar em que se encontra.
Foi nesta época que Diogo Gonçalves fez a estreia oficial em jogos pela equipa principal do Benfica, mas desde os 12 anos que está nos encarnados e desde cedo o emblema da Luz teve o jovem alentejano no radar. Assim o contou o presidente do Clube Desportivo de Almodôvar, Tiago Sousa, em conversa com o Bancada. “O Diogo começou a jogar aqui no Clube Desportivo de Almodôvar e esteve cá dois anos, nos quais ele já tinha observações feitas da parte do Benfica”, revelou.
Não obstante, mesmo sem saber diretamente que já tinha o Benfica a observar aquilo que exibia dentro das quatro linhas, o jovem Diogo, então nos seus dez anos, nunca se iludiu, nem deixou de ter os pés bem assentes na terra. Quem melhor o conhece assim o esclareceu ao Bancada. João Francisco é o melhor amigo de Diogo Gonçalves há já vários anos, numa amizade que percorreu o tempo em que jogaram juntos no CD Almodôvar, até aos dias que correm, e recordou aquilo que passava pela mente do agora jogador do Benfica quando ainda era um aspirante a futebolista.
“Indiretamente soube-se sempre que haviam pessoas a observá-lo, mas diretamente ninguém lhe tinha dito. O Diogo sempre foi muito objetivo e claro no que queria, sempre o ouvi dizer desde pequeno ‘eu vou ser jogador de futebol, tenho que ser e vou ser’. Ele nunca andou de cabeça no ar por falarem dele, esteve sempre focado no trabalho dele com o mesmo objetivo. Desde que era miúdo até aos tempos de hoje. O Diogo não se deslumbra com aquilo que falam dele, seja bem ou mal”, salientou João Francisco ao Bancada.
"Quando entrava em campo transformava-se… virava um bocado ‘diabo’”.
Conhecido nos dias que correm pela velocidade com bola, drible e pela objetividade com que joga nas inúmeras incursões do corredor para o centro, Diogo Gonçalves teve desde cedo um gosto especial pelo golo, aquele fator extra que leva muitas pessoas irem aos estádios. Nos primeiros tempos no CD Almodôvar, a eficácia de finalização que demonstrou não passou despercebida a ninguém.
“Nós jogámos juntos nos ‘escolinhas’, nesse tempo contra rapazes dois anos mais velhos que nós, ou seja com 10 anos, e na primeira época que fizemos o Diogo marcou 70 ou 80 golos”, recordou João Francisco, que deixou ainda uma expressão curiosa daquilo que o jogador do Benfica era dentro das quatro linhas. “Quanto entrava dentro de campo transformava-se.” Porquê o espanto? Pois Diogo Gonçalves era, fora das quatro linhas, um jovem que primava pela tranquilidade e calma. Mas, já lá vamos.
📷Crédito: Benfica.
A qualidade que tinha era inegável aos olhos de todos. “Apesar da idade que tinha, já ele fazia muito a diferença em campo”, reiterou o presidente do CD Almodôvar, Tiago Sousa. Edgar Palma também jogou e partilhou balneário com Diogo Gonçalves no emblema alentejano e fez questão de frisar todo o potencial que o atacante tinha, com os golos a serem novamente o ponto em principal foco. “O Diogo, como jogador, era aquele miúdo ‘obcecado’ pela bola, queria era jogar e marcar golos, ganhar e detestava quando perdíamos. Sempre foi um goleador, em todos os jogos marcava golos, inclusive numa época marcou mais de 60, era um craque.”
Alexandre Balbina também foi colega de Diogo Gonçalves no clube de Almodôvar e conhece o emergente jogador do Benfica desde que se lembra. “Ele sempre teve sonho de ser jogador de futebol e de tudo fazia para que isso se tornasse realidade. Quando era mais novo não largava a bola, andava sempre a treinar para conseguir ser o melhor. Destacava-se pela qualidade de remate, pela técnica - que o permitia fazer bastantes golos -, pela velocidade e também pela garra a disputar os lances, não dava nenhum como perdido.”
"Um miúdo da terra, muito humilde, simples, ouvia tudo que lhe dizíamos”.
Lembra-se daquele ‘diabo’ em campo que lhe falava há pouco? Pois bem, era precisamente o contrário daquilo que Diogo Gonçalves é e sempre foi fora das quatro linhas. Desde amigos, passando por colegas de equipa, até presidentes de clubes pelos quais passou, todos eles falam num fator dominante quando descrevem o jogador do Benfica: humildade.
📷Crédito: Benfica.
“O Diogo é um filho aqui da terra [Almodôvar], nunca escondeu as suas origens e vem cá muitas vezes e continua a ser o mesmo miúdo de sempre, humilde, fala a todas as pessoas. Ele sempre foi um miúdo muito simples, ouvia muito tudo aquilo que lhe dizíamos. Tinha as suas brincadeiras, como é habitual naquela idade, mas quando chegava o momento do jogo ficava uma pessoa completamente diferente, sério, moralizado”, referiu o presidente do CD Almodôvar, Tiago Sousa.
Sempre dedicado aos estudos, nem mesmo a ida para o FC Ferreiras, em 2007/08, tirou o foco a Diogo Gonçalves, não obstante as complicações que se prendem com o facto de jogar a mais de 70 quilómetros de casa, com viagens diárias pelo meio. “O Diogo sempre foi muito calmo, dedicado à escola. Ele era, naquela altura, um rapaz muito tímido e pacato, sossegado. Quando ele foi para o FC Ferreiras, foi muito duro para o Diogo e até para os próprios pais dele, porque um miúdo de 10/11 anos a ir fazer três ou quatro treinos por semana ao Algarve, a uma distância de mais de 70 quilómetros, é complicado. Os estudos dele eram praticamente feitos no carro, nas viagens que fazia”, recordou João Francisco.
De facto, existe um ponto comum no passado de Diogo Gonçalves: o futebol. Desde cedo que esse foi o foco do jovem alentejano e continua a sê-lo ainda nos dias que correm. Esse mesmo fator traz algumas lembranças caricatas à memória de João Francisco. “O Diogo só vivia para bola, os únicos brinquedos que ele tinha eram todos relacionados com o futebol. Quando ia a casa dele, só jogávamos futebol, playstation, ou matraquilhos, mas tudo relacionado com futebol. As prendas que ele recebia eram todas equipamentos de futebol.” Um aspirante a futebolista que tinha em Simão Sabrosa o principal ídolo. “O ídolo do Diogo naquela altura sempre foi o Simão Sabrosa, tentava imitá-lo muito e tentávamos sempre comprar chuteiras iguais às que o Simão usava.”
*Texto originalmente publicado em Bancada.pt a 31 de outubro de 2017.
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